quinta-feira, 1 de abril de 2010

Realidades que deveriam durar só no dia 1º de abril

1º de abril, o tão conhecido dia da mentira. Vivemos em meio à tantas coisas, tantos fatos sociais, que eu realmente gostaria que fossem mentiras, e que tudo fosse passar amanhã, que já não será mais dia da mentira, aí então voltaríamos a uma realidade agradável. Não digo uma realidade perfeita, afinal, a história nos mostra que nem na antiguidade e nem nos tempos modernos as sociedades eram perfeitas. Por que exigir isso então da sociedade contemporânea? Isto posto, acho razoável querer uma realidade no mínimo agradável. Mas de que coisas estou falando? À que fatos socias me refiro?

Temo um pouco estar sendo repetitivo quanto aos temas das postagens, porém, acredito serem temas de extrema importância e que merecem serem relevados. Quando falo das coisas as quais convivemos e dos fatos sociais aos quais presenciamos e/ou participamos, faço alusão a situação degradante da educação pública, a situação lastimável da política no DF e até mesmo no Brasil em geral, a alienação das pessoas, da qualidade das músicas e programas televisionados que estão surgindo no nosso tempo.

O que eu vejo hoje na sociedade brasileira é uma sociedade cada vez mais indiferente à política, ao que diz respeito a coisa pública. Vivemos em tempos qem que cada um quer garantir o seu e nada mais. Dane-se o próximo. O invidualismo e o antropocentrismo regem a vida dos cidadãos. O intelecutal francês Alexis de Tocqueville (1805-1859), ao estudar a democracia e escrever sua obra "A Democracia na América" previu exatamente o que vivemos hoje. Um mundo regido pelo dinheiro, uma sociedade em que cada um só está preocupado em manter suas próprias liberdades individuais. Algo como o que foi chamado de "ditadura do dinheiro". Ele é o único fim de vida para as pessoas. Não crítico as liberdades individuais dos cidadãos, afinal, numa sociedade democrática, elas são mais que obrigatórias aos cidadãos. O que critíco é a exclusividade que damos à ela. Isso torna as pessoas indiferentes ao Estado, às decisões políticas, à tudo que diz respeito a coisa pública. Isso torna a sociedade alienada.

Francisco Weffort disse: "a desgraça dos que não se interessam por política, é serem governados pelos que se interessam." É isso que acontece hoje. E infelizmente nossos políticos não têm um histórico invejável. Mas devido ao desinteresse dos cidadãos, eles continuam a nos governar. Essa á outra triste realidade que poderia desaparecer ao final do dia da mentira. Temos poucos pré-candidatos à presidência com reais intenções de voto, e menos candidatos ainda com boas intenções e bom histórico. Porém, quem lidera as pesquisas de intenção de voto não é o melhor dos candidatos, e corremos o sério risco de que sejamos governados por ele à partir de 2010.

Outra realidade triste da nossa geração é a qualidade das atividades de entretenimento da população. A parcela das pessoas que lêem nas horas de lazer é absolutamente mínima. Ninguém mais gosta de ler. "Ler é chato...", "não tenho paciência para ler um livro...", é o que se houve quando questionamos alguém sobre seu interesse pela leitura. Nem mesmo jornais as pessoas não lêem mais. Ao invés da leitura, as pessoas vêem cada vez mais televisão. Só que não os programas bons, afinal ainda há bons programas na tv. O que se vê na tv, hoje em dia, é Malhação, o tão aclamado Big Brother e programas do gênero. Eu fico perplexo, estarrecido com a importância que as pessoas dão à esse programa. Vejo pessoas realmente preocupadas com o que aconteceu em tal dia no programa, qual participante ganhou qual prêmio, quem saiu, quem ficou. Deixam de sair de casa, de fazer coisas realmente produtivas para assistir a esse programa absolutamente vazio, sem conteúdo, alienante. Isso é extremamente preocupante. Pior ainda é o apresentador, que adora bancar "o intelectual" recitando textos durante o programa. Um jornalista que presenciou a queda do Muro de Berlim e cobriu outras guerras, hoje presencia quem saiu da casa do big brother.

Continuando na perspectiva do entretenimento, temos músicas da pior qualidade nas rádios hoje. Da pior qualidade tanto nas letras que são sem significado, vazias e meramente comerciais, quanto na harmonia musical, na parte instrumental, com acompanhamentos e arranjos manjados e sem criatividade. Onde foi parar a qualidade muscial do samba, de Cartola, Dorival Caymmi, por exemplo? As letras pensadas e significativas de Chico Buarque, Caetano e Gil, por exemplo? Será que o Brasil não possui mais músicos realmente talentosos? É mínima a parcela de músicas realmente boas que estão surgindo no nosso tempo. Sem falar do lixo pop norte-americano que tem uma legião de fãs no Brasil e no mundo.

Todos esses fatos sociais, todos esses acontecimentos são tristes realidades contemporâneas. Seria tão maravilhoso que só durassem por um dia, no dia 1º de abril, no dia da mentira. Se assim fosse, poderíamos encarar a situação como o dia da mentira propõe, poderíamos encarar sem seriedade, na base da brincadeira, e então, amanhã, tudo voltaria a normalidade, porque nossa realidade não pode ser considerada normal. São necessárias mudanças éticas e morais, uma alteração de valores para que tudo comece a caminhar de modo correto, de modo construtivo e consciente.

Bruno Joly

Nenhum comentário:

Postar um comentário