terça-feira, 23 de março de 2010

O voto no reality show da vida real.

Há algum tempo, postei um texto que discorria sobre a profissão de professor, sua importância para a formação das pessoas, enquanto cidadãos e enquanto profissionais das mais variadas áreas do conhecimento. Coincidentemente, não sei se todos sabem, mas acredito que sim, os professores da rede pública entraram em greve por melhores salários e melhores condições de trabalho, causas que eu citei no post como sendo responsáveis pela péssima qualidade do ensino público.

Há algum tempo também, ao postar uma mensagem no meu twitter criticando o Big Brohter Brasil, acabei gerando um debate com um amigo que "me segue", que não concordava totalmente com o que eu estava dizendo. Mas onde quero chegar com tudo isso? Quero chegar num ponto onde acredito que ambas as situações, tanto a greve, quanto o big brother podem se relacionar. Tentarei discorrer sobre essa relação.

Hoje ao conectar-me ao twitter, vi uma série de postagens relacionadas ao programa de tv, sobre quem deveria sair, sobre quem deveria ficar, enfim, um pessoal realmente engajado e preocupado com o que está rolando no programa. E quando digo uma série de postagens, é porque estam muitas postagens, não uma ou duas, mas muitas mesmo. Pessoas dizendo que iam votar até cansarem, que iam cansar os dedos votando, etc.

Por outro lado, não vi nenhuma postagem relacionada à greve dos professores da rede estadual. Sei que é muito mais difícil para as pessoas realizarem algo concreto em favor dos professores, afinal, votar no programa é facílimo, uma vez que convivemos com a internet e o telefone. Mas, por que não usar os sites de relacionamentos para demonstrar apoio aos professores? Um ato simples desse, realizado por várias pessoas, tenho certeza que representaria muito para os professores e para os adeptos da causa. Os professores estão lutando por uma causa nobre, por uma melhor educação para nós, para as crianças e por melhores salários. Afinal, R$5,00 hora/aula é uma piada, não acham? Como disse um aluno de uma colega minha recém-formada que está dando aula: "nossa professora, até a faxineira ganha mais." Não estou desvalorizando a faxineira, afinal nem os melhores professores com o melhor material didático não podem dar aula num lugar imundo, por favor, longe de mim criticar tal profissão, mas será que uma profissão de tamanha importância como a do professor não merece um salário decente? Essa mesma colega, hoje professora, disse que alguns professores voram violentamente agredidos pela PM durante uma manifestação pacífica em São Paulo, porém, a mídia, "neutra" que é, não divulgou tal fato.

Eis aqui a relação que tento fazer entre o programa Big Brother e a greve: esse ano é ano de eleições presidencias, todos já sabemos de certa forma quem são os pré-candidatos e tudo, então, do mesmo jeito que as pessoas votam tão enérgicamente em quem deve sair ou ficar no programa, poderíamos usar essa mesma energia e vontade de votar para votar contra os mandantes de tal ação da PM contra os professores. Razoável, não?

A secretaria da Educação do Estado de SP disse que a greve era vazia e política (Secretaria diz que greve de professores em SP é política). A greve pode até terum certo cunho político, mas e as inúmeras inaugurações de indústrias e UTI's feitas recentemente em Campinas e Matão, respectivamente, em ano eleitoral, não são de caráter político? O governo federal também tem inaugurado diversas obras e feito tamanha divulgação das mesmas. Isso não é de caráter político? Sem contar os inúmeros concursos públicos que são abertos em anos eleitorais. Posso citar o do IBGE, para recenseadores e concurso para vários cargos aqui mesmo, na UNESP Araraquara.

De cunho político ou não, a greve dos professores tem objetivos sérios e bons, para todos nós. Os professores acabaram por aproveitar um momento de grande evidência dos políticos para se manifestarem, assim consequentemente, teriam maior visibilidade também. Creio que não fizeram mal. A nós, cabe apoiar tais profissionais, que têm sido cada mais desvalorizados pelo governo e usar a energia que se tem para votar no big brother para votar em candidatos que se mostrem realmente preocupados com tal setor público.

domingo, 14 de março de 2010

Dinhero x Moralidade

Depois de longos 3 meses de férias, semana passada as aulas retornaram de vez. As atividades escolares já tiveram início desde o dia primeiro de março, porém, primeira semana de aula é muito suave, não temos aulas propriamente ditas. Basicamente os professores só se apresentam e apresentam o curso.

Já li alguns textos requisitados pelos professores e já tivemos debates interessantes em sala de aula. Entre esses debates, no meio da aula de sociologia na quarta-feira, minha professora disse algo. O curso de ciências sociais exige muita leitura dos alunos. Um aluno de sociais que não lê, não conclui o curso com uma boa formação. A professora estava dizendo mais ou menos isso, e então emendou: "vocês sabem que ciências sociais não dá dinheiro, então no minímo, leiam". Nada que já não soubéssemos. Mas o que a professora nos disse sobre o curso não dar dinheiro, traz à tona um debate interessante. Hoje, os alunos do ensino médio e cursinho escolhem os cursos universitários por dinheiro ou porque realmente se sentem atraídos por determinada área do conhecimento?

Atualmente, o curso de medicina é o mais concorrido em qualquer universidade do país que o ofereça, e há cada vez menos concorrência por cursos que teoricamente não dão tanta projeção financeira, principalmente cursos das áreas de humanas e de educação, salvo excessões, como direito e administração, por exemplo, que são profissões com melhores expectativas financeiras do que letras, por exemplo.

Creio que a mídia exerce influência determinante nesse quadro. Jornais exibem matérias sobre profissões em que a pessoa pode enriquecer facilmente, as novelas e os filmes, principalmente hollywoodianos, mostram determinado padrão de vida onde todos que são bem-sucedidos andam de terno e gravata, dirigem carros importados, vivem na correria do dia-a-dia só trabalhando e querendo ganhar cada vez mais e mais dinheiro. O senso-comum é facilmente influenciado por isso.

Não digo que todas as pessoas que seguem por esses caminhos o façam só pelo dinheiro. Assim como eu gosto de ciências sociais, nada impede outra pessoa de adorar tal correria, adorar trabalhar na administração de determinada empresa. Mas será que todos são assim? Outro dia mesmo, assistindo ao Jornal Hoje da Rede Globo, estava sendo exibida uma matéria que falava sobre o medo que os trabalhadores tinham de tirar férias. Medo de serem demitidos por isso, de outra pessoa ocupar seu lugar na empresa, etc. Um entrevistado dizia que não queria tirar férias, que só queria ganhar cada vez mais dinheiro.

Isso reflete uma realidade assustadora, afinal, quem hoje em dia não pensa assim? Dinheiro é importante? Claro que é, afinal, sem ele, ninguém vive. Necessitamos do mesmo para comer, vestir, morar, educar. Mas até que ponto ele pode tomar conta de nossas vidas?

Há inúmeros valores morais que deveriam ser postos à frente do dinheiro, valores que fariam da vida em sociedade uma vida muito mais harmoniosa. O dinheiro como único fim de vida dos homens os torna, como já dizia o filósofo Thomas Hobbes, o lobo do próprio homem. Surge uma sociedade na qual, o único objetivo do indivíduo é passar por cima de seu semelhante para "garantir o seu". A realidade de hoje, infelizmente, é essa. Cada um por si. Olho por olho, dente por dente. É assim que é.

O senador Cristovam Buarque disse em seu twitter: "antes, economia era necessária para fazer boa educação; agora, educação é necessária para fazer boa economia. Isso é a mais pura verdade. A sociedade hoje precisa ser reeducada, para fazermos uma boa economia, melhor distribuição de renda com menos desigualdade social. Porém, necessitamos ir além disso. Não só precisamos de boa economia, mas de uma boa filosofia de vida.

Posso parecer um tanto sonhador ao dizer isso, mas, se houvesse um momento em que todos olhassem para si próprios e vissem o que estão fazendo pelo dinheiro e o que estão deixando de lado por ele também, creio que não seria o único sonhador.

Bruno Joly

quinta-feira, 4 de março de 2010

Brasileiro com muito orgulho, com muito amor?

2010, ano de eleições presidenciais no país e também ano de copa do mundo. Ambos os acontecimentos são interessantíssimos para o Brasil. As eleições por razões mais que óbvias, afinal, decidiremos quem tomará as rédeas do nosso país pelos próximos quatro anos, decidiremos quem irá decidir por nós. Já a copa do mundo é um evento que pára o mundo todo, os apaixonados por futebol e até mesmo os que não gostam do esporte, pois sempre damos uma "olhadinha" nos jogos. Porém, esse não é ponto que quero chegar. O ponto é que acho que eleições presidenciais no Brasil e copa do mundo estão relacionados de alguma forma.

Politicamente falando, os brasileiros numa ampla maioria, mas não em sua totalidade, estão cada vez mais apáticos. Isso é fato. Prova disso é a situação em que o Distrito Federal se encontra. Governador e vice acusados de envolvimento em esquemas de pagamento de propina e suborno de testemunhas para que as investigações sejam dificultadas. Isso nada mais é do que resultado da apatia política do brasileiro. Houveram manifestações contra os acusados, com certeza, porém, a quantidade de manifestantes era infinitamente pequena se comparada a população brasileira, e além do mais, as manifestações ocorreram somente em Brasília e em nenhuma outra localidade do território nacional.

Sonho em um dia em que o povo brasileiro volte às ruas para brigar por uma situação política decente, por políticos decentes, que o povo brasileiro se politize em sua ampla maioria, como já fomos um dia, na epoca da ditadura, por exemplo. Ou então, como exemplos mais recentes, façamos como franceses e gregos fizeram há algum tempo atrás. Greves gerais contra medidas governamentais que não agradaram ao povo, manifestações populares, entre outras coisas. Povo que participa efetivamente dos acontecimentos políticos e não vota, somente. Povo acima de tudo patriota.

Retornando ao começo da postagem, disse que copa do mundo e eleições presidenciais estavam relacionadas, e realmente penso isso. Porque se politicamente os brasileiros são apáticos, durante a copa do mundo a situação é completamente distinta. Todos saem ás ruas com o rosto pintado de verde e amarelo, camisas da seleção brasileira, bandeiras postas em sacadas de prédios ou então enroladas nos corpos das pessoas, e aquela famosa música: "eu, sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor...". É aí que vejo a relação. Nas eleições os brasileiros dizem: o Brasil não presta, só temos políticos safados, corruptos. Odeio esse país, etc e etc. E na copa do mundo o povo grita que é brasileiro, com muito orgulho, com muito amor. Ridículo.

Porque não pendurar a bandeira do Brasil na sacada do prédio hoje, por exemplo? Porque não sermos patriotas agora e começarmos desde já a pesquisar o passado dos possíveis candidatos à cargos públicos nas eleições em outubro para que não elejamos mals políticos? Por que não bater no peito, dizer que somos brasileiros e tirar do poder os tais políticos corruptos? Ou será que o Brasil é como os gringos pensam mesmo: futebol, mulher, samba e caipirinha?

Quando a seleção joga mal, perde um jogo ou o treinador não convoca determinado jogador, a torcida não mede esforços para protestar, chamar o treinador de burro, etc. E quando a seleção vence um jogo, saímos às ruas, fazemos festa, comemoramos. Não deveríamos também protestar contra decisões mal tomadas pelos políticos? Ou então sair ás ruas para comemorar quando um político acerta em sua decisão?

Patriotismo exacerbado também não é a solução, mas a falta de um patriotismo sensato é pior ainda, pois com o patriotismo vem necessariamente o interesse pela política, pelas decisoes tomadas no país, afinal, se você se interessa por determinado assunto, se gosta de determinada coisa, sempre vai querer o bem-estar dessa coisa. E o bem-estar do país depende de nós.

Crescimento econômico, educação pública de qualidade, segurança, saúde, distribuição de renda mais igualitária e preservação ambiental são alguns exemplos de áreas que são diretamente afetadas pelas decisões políticas e como todos nós dependemos diretamente dessas áreas, consequentemente somos diretamente afetados também. Conscientização política e amor pelo país podem fazer a diferença. É aí que está o desafio. Amor ao Brasil desde já e um amor duradouro, que não dure somente por alguns dias de festa do esporte. Afinal, a copa do mundo acaba e só teremos outra daqui a quatro anos. E comer, beber, vestir, trabalhar, aprender? Só daqui a quatro anos iremos fazer tudo isso também? Está mais do que na hora de refletirmos sobre isso.

Bruno Joly