quinta-feira, 4 de março de 2010

Brasileiro com muito orgulho, com muito amor?

2010, ano de eleições presidenciais no país e também ano de copa do mundo. Ambos os acontecimentos são interessantíssimos para o Brasil. As eleições por razões mais que óbvias, afinal, decidiremos quem tomará as rédeas do nosso país pelos próximos quatro anos, decidiremos quem irá decidir por nós. Já a copa do mundo é um evento que pára o mundo todo, os apaixonados por futebol e até mesmo os que não gostam do esporte, pois sempre damos uma "olhadinha" nos jogos. Porém, esse não é ponto que quero chegar. O ponto é que acho que eleições presidenciais no Brasil e copa do mundo estão relacionados de alguma forma.

Politicamente falando, os brasileiros numa ampla maioria, mas não em sua totalidade, estão cada vez mais apáticos. Isso é fato. Prova disso é a situação em que o Distrito Federal se encontra. Governador e vice acusados de envolvimento em esquemas de pagamento de propina e suborno de testemunhas para que as investigações sejam dificultadas. Isso nada mais é do que resultado da apatia política do brasileiro. Houveram manifestações contra os acusados, com certeza, porém, a quantidade de manifestantes era infinitamente pequena se comparada a população brasileira, e além do mais, as manifestações ocorreram somente em Brasília e em nenhuma outra localidade do território nacional.

Sonho em um dia em que o povo brasileiro volte às ruas para brigar por uma situação política decente, por políticos decentes, que o povo brasileiro se politize em sua ampla maioria, como já fomos um dia, na epoca da ditadura, por exemplo. Ou então, como exemplos mais recentes, façamos como franceses e gregos fizeram há algum tempo atrás. Greves gerais contra medidas governamentais que não agradaram ao povo, manifestações populares, entre outras coisas. Povo que participa efetivamente dos acontecimentos políticos e não vota, somente. Povo acima de tudo patriota.

Retornando ao começo da postagem, disse que copa do mundo e eleições presidenciais estavam relacionadas, e realmente penso isso. Porque se politicamente os brasileiros são apáticos, durante a copa do mundo a situação é completamente distinta. Todos saem ás ruas com o rosto pintado de verde e amarelo, camisas da seleção brasileira, bandeiras postas em sacadas de prédios ou então enroladas nos corpos das pessoas, e aquela famosa música: "eu, sou brasileiro, com muito orgulho, com muito amor...". É aí que vejo a relação. Nas eleições os brasileiros dizem: o Brasil não presta, só temos políticos safados, corruptos. Odeio esse país, etc e etc. E na copa do mundo o povo grita que é brasileiro, com muito orgulho, com muito amor. Ridículo.

Porque não pendurar a bandeira do Brasil na sacada do prédio hoje, por exemplo? Porque não sermos patriotas agora e começarmos desde já a pesquisar o passado dos possíveis candidatos à cargos públicos nas eleições em outubro para que não elejamos mals políticos? Por que não bater no peito, dizer que somos brasileiros e tirar do poder os tais políticos corruptos? Ou será que o Brasil é como os gringos pensam mesmo: futebol, mulher, samba e caipirinha?

Quando a seleção joga mal, perde um jogo ou o treinador não convoca determinado jogador, a torcida não mede esforços para protestar, chamar o treinador de burro, etc. E quando a seleção vence um jogo, saímos às ruas, fazemos festa, comemoramos. Não deveríamos também protestar contra decisões mal tomadas pelos políticos? Ou então sair ás ruas para comemorar quando um político acerta em sua decisão?

Patriotismo exacerbado também não é a solução, mas a falta de um patriotismo sensato é pior ainda, pois com o patriotismo vem necessariamente o interesse pela política, pelas decisoes tomadas no país, afinal, se você se interessa por determinado assunto, se gosta de determinada coisa, sempre vai querer o bem-estar dessa coisa. E o bem-estar do país depende de nós.

Crescimento econômico, educação pública de qualidade, segurança, saúde, distribuição de renda mais igualitária e preservação ambiental são alguns exemplos de áreas que são diretamente afetadas pelas decisões políticas e como todos nós dependemos diretamente dessas áreas, consequentemente somos diretamente afetados também. Conscientização política e amor pelo país podem fazer a diferença. É aí que está o desafio. Amor ao Brasil desde já e um amor duradouro, que não dure somente por alguns dias de festa do esporte. Afinal, a copa do mundo acaba e só teremos outra daqui a quatro anos. E comer, beber, vestir, trabalhar, aprender? Só daqui a quatro anos iremos fazer tudo isso também? Está mais do que na hora de refletirmos sobre isso.

Bruno Joly

2 comentários:

  1. Discussão antiga que alguns autores como Roberto DaMatta, Luiz W. Vianna e outros pautam sobre a cidadania, que é a relação Estado x Sociedade. No Brasil, o povo, desde sua concepção, foi afastado do processo político no seu todo, a não ser nas eleições (em que a massa foi sendo inserida aos poucos - mulheres, analfabetos, etc).
    É indiscutível o poço segregador que divide o Estado da sociedade.
    Ainda mais numa fase de desenvolvimento o brasileiro quer saber como ganhar dinheiro, quer saber se "x" político poderá proporcionar uma vida economicamente melhor, que possa ascendê-lo socialmente, mas não tem noção nenhum em que processos políticos isso pode ser feito. Reclamam, reclamam e nada.
    Sua citação aos caras pintadas é mais do que pertinente, porém como a cara pintada estava maquiado akele esquema de apaziguamento político e social entre as elites, os grandes industriais e os políticos contrários a ditadura. O povo simplesmente foi um recheio do bolo...que se não estivesse, poderia acontecer do mesmo jeito a transição.
    Eqto o brasileiro for analfabeto político e a mídia ainda participar ativamente deste processo, não vejo com bons olhos nosso futuro daki uns 30 anos, no mínimo.

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  2. Pois é Leo. O analfabtismo político é nosso grande problema, junto com a falta de senso-crítico do povo brasileiro, a péssima educação e a mídia, influenciando cada vez mais o povo pouco instruido à favor das elites. Acho que o ponto principal pra mudança dessa mentalidade é a educação, e como você disse, se a educação começar a melhorar hoje, veremos mudanças no minimo em 15, 20 anos. Mudanças realmente significativas, com sorte em 30 anos mesmo. Cabe a nós fazer a nossa parte e se não mudar, pelo menos tentar.

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